segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Entrevista com Cecília Fidelli Editora Komedi

Entrevista com Cecília Fidelli
Editora Komedi

Cecília Fidelli
Cecília Fidelli é ativa participante no mundo literário alternativo, editora da Revista Reviragita. Ainda sem livros publicados, escreve movida pela vocação dos poetas, inspirando-se no mundo que a cerca.
Neste mês, reproduzimos uma de suas mais recentes entrevistas, concedida a Laerçon J. Santos, publicada no Zine Boca Suja, em outubro de 1999.

O alternativo Reviragita Poesia existe há mais de 9 anos. Qual é o segrego para mantê-lo durante tanto tempo, com o mesmo pique, sem nenhum patrocínio?
A gente aprende com as crises e se adapta, como convém aos editores sem patrocínio. Quero que saiba que não sou assim, tão independente. Toda vez que a situação fica complicada, recorro a alguns colaboradores, com os quais posso contar sempre. Há pessoas solidárias, que têm consciência e valorizam meu trabalho de divulgação, informação e promoção de intercâmbios. Persistir para resistir, esse é o segredo. Não é porque de vez em quando pinta um buraco na meia, a gente não sai de casa. Concorda?




Como você encara o fato de muita gente (e eu prova disso), tê-la como "A verdadeira poetisa underground?"
Hum... Puxa-saco é bom e eu gosto! Mas assim, você me deixa vermelhinha, sabia? Sua "atitude" é muito expressiva para mim. Quer dizer que eu estou mesmo em "alta"? Sou como um doente que tem que se cuidar com seus próprios recursos. Estou sempre apta a lidar com tudo o que vivo ou passa por mim. Não sou de aceitar, passivamente, o que a vida me dispõe. Talvez, por isso, chame a atenção de alguns. Coloco todos (ou quase todos) os meus sentimentos no papel. Se alguém me diz que estou sem cintura, não hesito em retrucar que nem por isso sou um saco de feijão. Bem que eu gostaria de ser mais misteriosa! Não consigo.

Gostaria que você traçasse um paralelo de como as críticas, destrutivas ou construtivas, podem influenciar leitores de zines ou alternativos.
Se se refere aos "boicotes" eu diria "tentativas de". As críticas construtivas, são sempre bem-vindas. Estimulam. Já as destrutivas, evidentemente, não são vistas com bons olhos. Ninguém gosta de ser criticado. Mas quem tem personalidade definida (cabeça feita), não se deixa levar por certos atos de negação. Os realmente maldosos são realmente insanos. Deveriam ser conscientizados? Curados? Será que certas "distorções" merecem atenção? Fica a pergunta. Kennedy já dizia: "Sempre se ouvirão vozes em discordância, expressando errado e nunca o certo. Procurando exercer influência, sem aceitar responsabilidades."

O que é amizade para você, Cecília, no meio underground? Ela influi na sua vida de maneira geral? Fale sobre isso.
Estamos todos muito próximos através de cartas, mas de uns tempos para cá, venho tornando amizades, digamos... virtuais em reais. Suas condutas, tendências literárias, idéias e ideais, sentimentos, crenças e até quadros depressivos, me fazem vibrar, afetam profundamente. Por isso mesmo, resolvi me integrar mais e tenho procurado conhecê-los pessoalmente. Antes, definia-os por tese, absorvia mensagens. Hoje acho prazeiroso o olhar no olho. A percepção torna-se mais recíproca. Em outras palavras, são mais interessantes cara a cara. Infelizmente, não posso ter esse privilégio dos mais distantes.

Como surge a inspiração para você escrever coisas tão tocantes e muitas vezes, em tão poucas palavras?
Sensações constantes de angústia e ansiedade, alegria e tristeza e outras mil em relação aos mais diversos aspectos da vida, limitam alguns. A mim, ao contrário, motivam. A poesia funciona como uma válvula de escape. Mais ou menos como "aliviar desejos", entende? Tenho o espírito inquieto por natureza. Eu até procuro escutar as "aspirações" atentamente, mas é inevitável. Tenho consciência de que, às vezes, me torno excessiva.

Grandes poetas costumam dizer que é preciso estar triste para se ter grandes inspirações. Isso é verdade?
Creio que a resposta à pergunta anterior prova que não é o meu caso. Eu e meus escritos somos marido e mulher. Uma cumplicidade... nem sempre amorosa. E jamais me sentiria à vontade dissimulando. Me inspiro quando sofro, me inspiro quando estou feliz. Entretanto, concordo que a felicidade é um espasmo, e que exaltar tristezas, talvez, seja um modo de expor a realidade. Eu, particularmente, tenho maneiras mais preciosas de demostrar que gostaria de esganar essa tal realidade e seus sintomas. Bom seria se conseguíssemos rejeitar sentimentos que provocam problemas cardíacos. Enquanto não os eliminamos... poetamos.

Fale agora o que você acha da cultura na era F.H.C. e o que a aguarda de bom, para o próximo milênio?
As economias do governo FHC, certamente, não são investidas em autores engavetados, por exemplo. Atualmente, o procedimento mais "normal" é veicular a "cultura do bum-bum, do lixo music"... Para o próximo milênio, tudo vai depender de quantos e quais Fernandos Henriques vamos eleger. Faço questão de ressaltar que não fiz parte dessa "irregularidade". Desculpem, sinceramente o desânimo. É que não vejo estratégia eficaz para posturas que sustentam a mídia. Prevalece sempre, em qualquer área, a vantagem financeira e nesse sentido, é dificílimo burlar, "negócios, cada vez mais frutíferos ao fabricante". Enquanto o povo acredita em promessas, fórmulas mágicas, sorrisos promocionais... Abordar esperanças é falível.

O espaço é seu. Fale o que quiser.
Ah! Como eu tinha vontade de agradecer aos zineiros que abriram espaços à poesia! Que bom que o alternativismo e o underground podem andar de mãos dadas! Muito Obrigado! Carinhosamente leitores do Boca suja. Sucesso Laérçon, com sua descontração que limpa nossas mentes e dá brilho sem riscar!

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