terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Sem título

Embora muitas vezes a minha velha capa de chuva

não resista a tanta água, o frio chega ao meu corpo,
meu cavalo anda a passos lentos, o rancho parece
que nunca vai aparecer na próxima campina.
Meu pensamento voa.
Penso na sopa quente, no pão saído do forno...
mais um trovão e volto à realidade.
Aparece o rancho, sem sopa, sem ninguém.
Mas enfim, um lugar para passar a noite,
refazer as energias.
Depois do cavalo tratado, do fogo aceso,
do charque no espeto, do mate na cuia,
da cachaça que queima o peito, 
da roupa seca, converso com o fogo.
A solidão da vida de menino no escritório,
da volta na hora do almoço...
Mais um trago, mais um pedaço de carne,
mais um gole de mate.
Ao longe um relâmpago clareia o campo,
o vento crepita as chamas.
Parece que sinto seu cheiro na brisa que sopra,
a cama de palha, a saudade que aflora.
Mais um gole.
A água fria na escova de dentes,
o olhar perdido na imensidão escura.
Enfim a solidão.
Uma prece ao Pai, o pensamento ao longe,
e a certeza de um novo dia.
A vida recomeça e as lembranças também.



                                                                                                             RA/MEU